23/12/16

Mongólia Central


A Mongólia é um extenso país mundialmente famoso pelas suas estepes, desertos e pelos seus exímios cavaleiros. Para se conhecer esta região invariavelmente vai ser necessário percorrer longas extensões de quilómetros. Esta característica do país torna-o um dos mais difíceis para viajar de forma independente. Isto porque praticamente não existem estradas, a maioria delas é em terra batida e com vários “caminhos traçados no chão, longas extensões de terrenos sem grandes diferenças visuais que poderão levar-nos à "desorientação". Para além disso, não existem muitas opções de alojamento fora das zonas mais turísticas pelo que ter alguém que tenha o contacto das famílias nómadas é sempre uma mais valia.  


Para estas longas excursões existem diversas opções para diversas carteiras. Poderá-se alugar um jipe ou carrinha privada com condutor, alugar um carro - pelo que vimos acho que será a pior opção devido à orientação e possíveis avarias, ou procurar encontrar viajantes para dividir as despesas de alugar transporte e contratar um condutor - praticamente todas os alojamentos ajudam nesta opção.  Existem várias agências de renome especializadas em tours pelo país mas, apresentam preços muito elevados. Acredito que apresentem um óptimo serviço nomeadamente com diferenciação da acomodação e alimentação, mas a relação qualidade/preço não será das melhores. 
Há a possibilidade de utilizar transportes públicos, nomeadamente o comboio e autocarro, para algumas zonas do país pelo quem o desejar fazê-lo deverá fazer uma maior pesquisa. 


Tour pela Mongólia Central

Quando chegámos à capital da Mongólia, no final do mês de Outubro, o país já se encontrava bastante frio com temperaturas a rondar os -18ºC.  Fora da capital as temperaturas estariam ainda mais baixas pelo que pareceu-nos sensato escolher uma zona que fosse "menos fria". Após alguma pesquisa de preços e itinerários optámos por escolher uma tour de 4D/3N na área conhecida como Mongólia central. A tour foi organizada pelo nosso alojamento - Zaya Guest House. Sendo época baixa, só conseguimos encontrar mais uma pessoa para se juntar a nós e partilhar as despesas. 

Dia 1

Partimos cedo de Ulan Bator em direcção à antiga capital do país - a cidade de Karkorum - actualmente as ruínas da cidade fazem parte do Património Mundial da Unesco. A viagem até lá foi bastante longa e já só chegamos a tempo do jantar não conseguido ver muito mais. Pelo caminho o primeiro contacto com a Mongólia não citadina foi indescritivel: longas extensões de terreno, com animais em enormes grupos a fluir livremente, pouquíssimos carros na estrada, e um céu azul que quase nos fazia esquecer o frio que sentimos. Este primeiro dia também serviu de "treino" para as condições que teríamos que enfrentar nos restantes dias. 


Ficamos alojados numa ger ou yurt, que são tendas circulares, onde os nómadas podem viver de forma permanente ou nómada num local. As tendas são aquecidas por uma espécie de salamandra que fica situada no centro da mesma. No topo da tenda existe alguns buracos para sair o fumo e também espaço para a chaminé. 

Na nossa primeira noite as temperaturas desceram até -25ºC, o frio era imenso, o vento que entrava pelos buracos no topo da tenda faziam regelar ainda mais a alma. Já íamos preparados pelo hostel que nos emprestou 2 sacos camas por pessoa  (ideais para temperaturas até -17ºC). Pelas 4 da manhã eu e o Paulo acordamos com ainda mais frio quando olhamos o fogo tinha-se apagado. Nesta altura só me lembrei de vestir as calças de neve que sem dúvida foi uma grande ajuda. Na nossa tenda existia luz eléctrica mas não tinha água corrente (como em todas que pernoitamos), e a “casa de banho” ou “nomadic toilet” como o guia gostava de chamar, é apenas um buraco coberto por umas tábuas de madeira geralmente afastado dos gers - o que fazia as idas à noite à casa de banho um verdadeiro martírio.

Dia 2

Acordamos cedo, tomamos o pequeno almoço com os mantimentos que levamos e partimos então à descoberta da antiga capital imperial que foi destruída pelos soldados de Manchú. Visitamos o grandioso mosteiro de Ordene Zuub. 

Este mosteiro foi também o primeiro local de doutrina do Dalai Lama na Mongólia. Estando no mosteiro pelas 11h é ainda possível presenciar uma cerimónia feita pelos monges onde fazem um “chamamento sonoro” para o recinto do templo. Em frente ao mosteiro existem algumas bancas a vender artesanato local a preços simpáticos.  Fora dos limites do mosteiro, há duas rochas em forma de tartaruga e ainda um estranho "expositor" do que sobrou dos pilares da antiga capital mongol.

Fomos almoçar a uma cantina mongol onde todos os pratos tem por base o borrego e são feitos praticamente na hora em frente ao cliente.

Da parte da tarde estava programado fazermos o caminho em direcção ao vale de Orkhon para no dia seguinte podermos ver a sua bela cascata. Infelizmente não podemos visitar esta zona do país pois, os cursos de água maiores que tínhamos que atravessar com o carro ainda não estavam 100% congelados, pelo que a meio do caminho ficamos atolados. Para nossa sorte apareceu um nómada com um burro do meio do nada que nos ajudou. Assim sendo e sem opções tivemos que voltar para trás e voltar a dormir no mesmo ger.

No regresso forçado à cidade de Karkorin, o nosso guia arranjou-nos um "programa alternativo" e levou-nos a uma colina com vista sobre a mesma onde se existem duas rochas sagradas: uma em forma de tartaruga, e ainda escondida num pequeno vale uma rocha fálica que acredita-se que ajude na fertilidade das mulheres. No topo da colina, um agrupamento de estupas budistas e alguns amontoados de rochas utilizados em rituais xamânicos.

Dia 3

Mais uma vez acordamos cedo e fomos em direcção a  Elsen Tasarkha para vermos um pequeno de pedaço de deserto como o nome de “Bayan Gobi”. Antes de seguirmos viagem paramos no mercado local e comprarmos carne e massa para o jantar, visto que a família onde ficamos não poderia cozinhar para nós.

Foi um dia memorável, as temperaturas estavam mais altas e o sol brilhava, e passamos umas boas horas a caminhar nas dunas e a andar de camelo. Os camelos eram uma autêntica comédia! Eu fiquei com o mais calmo e o Paulo ficou com o mais “arisco” que simplesmente não o tolerava - tiramos muitas fotos engraçados à conta desta relação entre os dois. 

De seguida fomos visitar as ruínas do Mosteiro de Ongi e os pequenos locais de culto e meditação circundantes que ainda lá existem. Aqui existiam dois dos maiores mosteiros budistas do país, que foram destruídos durante o período de governação comunista no de 1930. Devem o seu nome ao rio que separa esta zona do Bayan Gobi, o rio Ongi que se encontrava congelado.

Ao cair da noite foi altura de regressar ao ger e começar a preparar o jantar. Sem dúvida que para mim, que adoro cozinhar, foi uma experiência única de cozinhar no fogo numa tenda mongol. Como connosco estava um rapaz natural de Hong Kong tentei cozinhar algo minimamente portugês e no fim passamos de 3 pessoas ao jantar para 6 ( o motorista + duas crianças). Acabamos a noite a olhar e o Paulo a fotografar as estrelas debaixo daquele céu infinito enquanto bebíamos um copo de vinho. 


Dia 4

No quarto dia começamos a fazer o caminho em direcção a Ulan Bator mas com paragem programada no Parque Nacional Khustain Nuruu. Este parque é uma área protegida famosa, com cerca de 50 mil hectares, pelos animais que lá vivem: uma espécie endémica de cavalos (mais pequenos do que o normal), veados, pássaros entre outros. 

Na altura em que visitamos o mesmo estava da mesma tonalidade de toda a mongólia - acastanhado. Pelo que na Primavera (com campos verdejantes) ou no Inverno (coberto de neve) as paisagens serão de certo mais belas. Continuamos a nossa viagem e chegamos a Ulan Bator por volta das 18 horas. O trânsito para entrar na cidade é medonho, e o nosso motorista decidiu fugir ao trânsito pelas colinas da cidade onde podemos ver a zona de favelas da cidade: muitos gers, muito fumo, muito lixo e muita pobreza contrastando com o centro da capital.

Preço


O preço da tour foi de 110 euros/pessoa para os quatro dias. Neste valor estava incluindo o preço da carinha com ar condicionado, combustível, condutor e as refeições do condutor. À parte tivemos que pagar as nossas refeições (cerca de 2 a 4 euros/pessoa), alojamento (3,80 a 5euros/pessoa), entrada no parque natural e passeio de camelo. 

Sem dúvida que o Outono/ Inverno são alturas mais complicadas para visitar o país,mais ainda assim a experiência de fazê-lo é bastante positiva. Temos planos de voltar num futuro na altura da Primavera para poder continuar a explorar o país - nomeadamente o mítico deserto do Gobi.

Sem comentários:

Enviar um comentário