A nossa primeira saída de Pyongyang teve como destino a DMZ, a Zona Desmilitarizada da Coreia que, ironicamente, é uma das fronteiras mais militarizadas do mundo. Depois de entrarmos no país pela sua fronteira a Norte, com a China, iríamos agora acabar de atravessar o mesmo até ao paralelo 38 que serve de referência à divisão das duas Coreias.
Como saímos após o almoço, passamos a tarde a percorrer um longa, ampla e também deserta autoestrada até à cidade de Kaesong, próxima da fronteira. Pelo percurso, vários pontos de controlo militares bem como militares dispersos pela autoestrada iam fazendo continência à passagem do autocarro. A paisagem montanhosa vai dando lugar a planícies com couves - em fase de colheita para prepararem o famoso kimchi - e alguns campos de algodão marcados com pequenas bandeirinhas vermelhas. Pelo caminho, a guia falou-nos um pouco da agricultura no país e de como são pagos os agricultores nas quintas cooperativas e estatais. Falou-nos ainda da "battle season", altura das colheitas em que, pelo menos em teoria, todos os cidadãos têm que dedicar duas semanas a este trabalho.
Chegamos a Kaesong já de noite, pelo que fomos levados directamente ao alojamento - pequenas casas tradicionais coreanas com pavimento aquecido construídas nas margens de um pequeno riacho - onde haveríamos também de jantar. Foi o único sítio onde ficamos momentaneamente sem luz, embora por um par de minutos apenas.
No dia seguinte acordamos bem cedo para tomar o pequeno almoço e então dar início a longo e tenso dia. Começamos por visitar o túmulo do rei Kongmin, da dinastia Koryo que viria a dar nome à Coreia. Após viajarmos alguns minutos por entre campos e colinas, chegamos a um pequeno monte com uma escadaria por entre jardins coloridos pelo Outono até chegarmos aos túmulos propriamente ditos, do rei e da sua esposa.
Segundo as guias, aquando da ocupação japonesa os soldados do império tentaram por todos os meios entrar nos túmulos a fim de os profanarem e destruírem, por saberem da importância histórica que estes tinham para a identidade coreana. Nunca terão descoberto a entrada dos mesmos e no nosso grupo a Catarina foi a única adivinhou onde esta se encontrava.
Daqui partimos para Museu Koryo, uma agradável surpresa sem sinais de propaganda do regime. Trata-se de uma sequência de pequenos pavilhões tradicionais, com artefactos históricos relacionados com a dinastia Koryo. À saída, para além da habitual loja de souvenirs que aqui se especializava em Ginseng, algumas mulheres vendiam fruta aos turistas.
Regressamos então à cidade, onde visitamos as estátuas dos dois líderes falecidos, que se encontram no final de uma das principais avenidas no topo de uma colina. Ficamos por alguns minutos a aguardar pela chegada do outro autocarro e como tal pudemos deambular algumas centenas de metros fotografando os locais sem o habitual "bali-bali" com que as guias nos "despachavam" de local para outro.
Seguia-se então aquele que viria a ser o almoço mais típico de toda a viagem: 12 pequenas taças douradas, cerca de metade delas com ingredientes irreconhecíveis, a serem degustadas com sopa e arroz. Um pequeno copo de soju para cada, com as já habituais garrafas de cerveja e água espalhadas pela mesa. Quem quisesse desembolsar algum dinheiro extra, podia provar uma sopa de cão por mais 5 euros ou então um caldeirão (para 3 a 4 pessoas) de galinha com ginseng por 30 euros.
Depois do almoço, regressamos aos autocarros para iniciar então o percurso até à DMZ. Um percurso em tudo igual a todos os outros, até começarmos a passar por sucessivos pontos de controlo e chegarmos a uma espécie de centro para acolhimento dos turistas. Nesta altura começamos a perceber que afinal a visita não iria ter o ambiente "tenso" esperado: o dito centro não era mais do que uma loja de souvenirs com casas de banho onde se aguardava o regresso dos grupos que se encontravam em Panmunjon, o único ponto de contacto entre as duas Coreias ao longo de toda a DMZ. Não houve qualquer controlo de segurança, apenas alguns avisos sobre onde poderíamos ou não fotografar.
Seguiu-se uma breve explicação da zona que iríamos visitar, por parte de um soldado entusiasmado. O entusiasmo deste parecia ter contagiado a nossa guia, a Sr.ª Kim, que prontamente traduzia - com mesmo volume e igual intensidade - as explicações do homem de verde.
Chegada a autorização para avançar, visitamos primeiro o "Museu da Paz", pavilhão onde foi assinado o armistício mas que acabaria por ficar a norte de linha de demarcação. Aqui há um exemplar em coreano e outro em inglês, com as respectivas bandeiras (Coreia do Norte e ONU).
Pouco depois, teremos passado ao lado da solitária - e segundo alguns rumores deserta - aldeia de Kjong Dong, com um dos maiores mastros de bandeira do mundo que suporta aquela que já foi a maior bandeira do mundo, com um peso de 270kgs. No entanto, com o nevoeiro e chuva com que fomos "presenteados" nessa tarde, não foi possível vislumbrar a bandeira, muito menos a aldeia.
Daqui prosseguimos então para o ponto alto do dia, a visita à Área de Segurança Conjunta, onde uma sucessão de pequenos pavilhões "ignoram" a linha de fronteira e permitem negociações entre ambos países. De cada lado da fronteira, há um edifício principal com vários edifícios anexos.
Conseguimos não só "entrar e sair" da Coreia do Sul como ainda usamos a rede de telemóvel desse país. Tiramos as fotos da praxe com o soldado que nos guiou e iniciamos a viagem de regresso a Pyongyang, sãos e salvos.