Bago é hoje em dia uma pequena cidade com menos de 300 mil habitantes, situada a nordeste de Yangon. No entanto, esta cidade já foi uma importante capital do reino de Pegu, antigo nome da cidade. Este foi também um dos reinos que maior interacção teve com exploradores e mercenários portugueses, que ajudaram a conquistar e reconquistar, ao serviço de diferentes reinos. Primeiro Filipe de Brito e Nicote conquistou-a ao serviço do Reino de Arracão, ao lado de Salvador Ribeiro de Sousa. O mercenário português mais conhecido de Myanmar, Filipe de Brito, viria mesmo a ser nomeado rei pelos habitantes locais.
Com o passar do tempo, Bago foi perdendo relevância e hoje em dia, embora seja a 5ª cidade mais populosa do país e se mantenha como capital da província homónima, é uma cidade pacata dedicada acima de tudo ao culto religioso.
É fácil chegar a Bago a partir de Yangon. A opção mais segura e económica é o comboio, desde que não haja nenhum acidente como foi o caso do nosso. De qualquer modo ele anda tão devagar o dito acidente não teve consequências de maior, exceptuando a paragem de quase 1h até removerem o carro colhido (em boa verdade foi mais "um toque") da linha. Alternativamente, podem alugar um táxi (boa opção se quiserem fazer uma day-trip) ou ir de autocarro.
Sendo uma cidade geralmente visitada em tours de um dia ou de passagem, não há muitas infraestruturas direcionadas ao turista. É conveniente negociar um tuk-tuk pois boa parte dos atractivos ficam afastados entre si. Também foi a partir daqui que começamos a ver gradualmente cada vez menos turistas, o que tornou toda a experiência no país ainda mais autêntica.
Myanmar é um país de budas. Não que os seus vizinhos a oriente também não o sejam, mas Myanmar bate qualquer um deles, quer em número, quer em tamanho. E Bago não é excepção, voltando a apresentar alguns dos maiores "espécimes".
Aquele que mais se destaca, até por ser diferente dos demais, é o Kyaikpun: 4 budas de 27m de altura num quadrado, de costas voltadas entre si. Apesar de parecer de construção recente, a "culpa" é dos restauros recentes desta estrutura originalmente construída no século VII.
Bem no centro da cidade, fica o Mahazedi Paya, com a sua estupa dourada assente numa base branca. À semelhança de outras estruturas do género no país, foi destruído e reconstruído diversas vezes, geralmente por danos causados por terramotos. Uma outra estupa dourada que geralmente até recebe pouco destaque, é em boa verdade a mais alta do país (sim, mais alta do que o Shwedagon em Yangon) com os seus imponentes 111m. À data a nossa visita, encontrava-se em restauro e com um aspecto caricato:
Um outro "marco" desta cidade é o terceiro maior buda reclinado do país, o Shwethalyaung, que se encontra alojado num espaço coberto. As "almofadas" onde apoia a cabeça estão cobertas de pedras preciosas.
Um outro buda reclinado mas ao ar livre, completava o pódio da competição de mudas que parecia haver em quase todas as cidades do país, o Myathalyaung.
Relativamente escondido numa das zonas mais pobres da cidade, fica o Templo da Cobra, um pequeno templo que aloja uma piton monstruosa mas aparentemente sedada, que "acompanha" as preces do seu cuidador a troco de pouco dinheiro. Embora seja num local algo degradado e o templo não seja arquitetonicamente atractivo, vale a pena a visita pois vê-se que é um templo concorrido pelos locais pouco habituado a receber turistas.
Nas imediações há um pequeno templo de onde é visível o Kanbawzathadi, uma reconstrução recente do antigo palácio real, que se encontrava fechada à data da nossa visita. Atenção que este monumento não está incluído no bilhete geral da zona arqueológica de Bago - que custa 10 mil kyats - sendo necessário adquirir um bilhete independente com o custo de 4 USD, à data da nossa visita.
Por fim, o momento mais divertido do dia, a visita ao algo pagão Hinthar Gon Paya. É um templo construído pelo povo Mon em honra a uma ave mitológica, num local sagrado. Para além do templo em si, que não é nada de extraordinário, há uma pequena cave essa sim, bastante interessante. Aqui encontramos um grupo de homens como que em trance a tocar música tradicional enquanto ladyboys e senhoras idosas cuidavam das oferendas ao templo. Estas últimas, fizeram questão de nos convidar para uma pratada de um qualquer cereal castanho escuro parecido com arroz integral com coco fresco desfiado por cima, terminando com tóping de açúcar de cana em pó. Afinal de contas não é só em budas que Myanmar é imbatível, também o é na generosidade.