06/07/17

Macau



A última colónia europeia na Ásia viria a ser entregue à República Popular da China no ano 1999, um ano depois de Hong Kong. Este que foi o primeiro entreposto comercial europeu na região preserva mais de 400 anos de história portuguesa. Os sinais da nossa presença são ainda bem visíveis na península e mesmo em Coloane, a ilha mais meridional da região.

Chega a Macau é fácil, seja de comboio, ferry ou avião. Também é possível chegar por autocarro mas esta será a opção menos cómoda. Já o comboio, termina na cidade vizinha de Zuhai, mesmo junto às Portas do Cerco, principal acesso terrestre à região. Os principais hotéis e casinos têm shuttle gratuito a partir daqui, caso contrário há um corrupio de táxis que praticam preços acessíveis para o centro da península. Quer para portadores de passaporte português, quer brasileironão é preciso visto.

A península de Macau encontra-se ligada por 3 pontes à ilha de Taipa e esta por sua vez encontra-se ligada à serena ilha de Coloane pelo istmo de Cotai, hoje em dia conhecido pela Cotai Strip, o futuro do negócio do jogo em Macau.

Chegados a Macau já depois do anoitecer, começamos por caminhar até ao centro da cidade em busca de comida portuguesa e, confesso que um pouco saturados após 2 meses de gastronomia russa, mongol, coreana e chinesa, acabamos por nos entregar aos cuidados do restaurante "Mariazinha", que recomendamos vivamente.

Ainda algo inquietos pelo facto de todas a indicações estarem em português num país asiático e por termos acabado de jantar posta à mirandesa e francesinha, ao sair do restaurante decidimos deambular aleatoriamente pelas ruelas de calçada e acabamos por desembocar nas ruínas da catedral de São Paulo, imagem de marca do território. Foi um aperitivo para o dia seguinte, esse sim dedicado ao centro da Península.



Para além das ruínas de São Paulo, há um pequeno espaço museológico atrás e por baixo das mesmas. Mesmo ali ao lado, fica o Forte do Monte, onde se localiza o Museu de Macau, que se dedica à história do território e à presença portuguesa no mesmo. Daqui há uma boa vista sobre a península de Macau, ela própria elucidativa da evolução da região:


Não muito longe desta zona fica o Largo do Senado, provavelmente a zona mais portuguesa de Macau. Para além dos edifícios administrativos do período colonial, existem diversas igrejas católicas em redor da praça.





Na Travessa da Sé está aberta ao pública a "mansão Lou Kau", que pertencera a um comerciante chinês importante no território. É um pequeno espaço com pouco para ver, mas como a entrada é gratuita e até fica no caminho, vale a pena entrar.



Caminhando para norte, após a Igreja de St. António, existe o Jardim de Camões, um bom sítio para fugir um pouco às multidões de turistas do Senado e das ruínas de São Paulo.


Mesmo em frente ao jardim, é possível apanhar o autocarro para Coloane no sentido inverso, que acaba por inverter a marcha umas paragens adiante. Não nos cobraram dinheiro até ao final da viagem, depois pagamos 5 patacas por pessoa de lá até Coloane. A viagem é demorada, principalmente se houve trânsito na ponte para Taipa.

Macau foi cedida a Portugal com a condição de garantir a segurança na região, refúgio de piratas que atacavam frequentemente naquela zona. Coloane foi a última parte do território de Macau a ser "libertada" dos piratas e como tal a velha Coloane é sem dúvidas uma das zonas mais "portuguesas" de Macau. O marco história central é a igreja de São Francisco Xavier, com o belíssimo Largo Eduardo Marques em calçada portuguesa a servir de pavimento até ao mar.



Os edifícios laterais embora com nomes e menus portugueses (já nem vou falar na aparência) servem na realidade comida macaense, isto é, a interpretação da gastronomia portuguesa pelos nativos de Macau. A bifana estava boa e os bolinhos de bacalhau até escapavam, o caldo verde é que nem por isso.


Aproveito para partilhar as fotos da posta à mirandesa e da francesinha que degustamos na "Mariazinha":





Prosseguindo para sul pela marginal, em direcção à biblioteca, irão encontrar desvios para dois pequenos templos budistas, com um terceiro templo na estrada secundária que os liga.









Daqui regressamos até Cotai, onde aproveitamos para visitar um casino, o Venetian. Na sua essência muito similar ao de Las Vegas, embora com uma distribuição de jogos muito diferente, tendo em conta a variante cultural. As slot-machines estão em muito menor número e muitas das mesas de jogo são dedicadas a um jogo chinês chamado "Pequeno e Grande", ou Sic bo. Os grandes casinos são interligados por imensas galerias comerciais, com a presença de todas a grandes marcas.







O autocarro de Cotai para Macau custou-nos 3,2 patacas por pessoa e ainda fomos a tempo de visitar mais uma atracção da cidade ao anoitecer, o Mercado Vermelho ou Mercado António Lacerda. Nos seus 3 pisos irão encontrar peixe, marisco, carne, frutas, vegetais e frutos secos. A secção de peixe e marisco é sem dúvida a mais interessante. Pelo caminho, o edifício que se destaca ao lado de uma das três pontes que ligam as ilhas à península é a Torre de Macau, aqui fotografada do autocarro:





Nas redondezas do mercado, existe um segundo mercado improvisado nas ruas e ruelas, com praticamente todos os espaços preenchidos por negócios. Numa estreita ruela nas traseiras do mercado, há uma pequena loja com uma imensa variedade de bolachas cantonesas tradicionais. O dono não fala português nem inglês mas um senhor chinês igualmente idoso que lhe fazia companhia falava português aceitável, o que facilitou a transação.


Um bom sítio para terminar a noite, é a zona dos casinos mais antigos de Macau, onde se destacam o hotel-casino Grand Lisboa e o seu "irmão" mais velho, o hotel-casino Lisboa. Esta é também uma boa zona para compras, predominando joalharias e lojas de electrónica, estas últimas com preços similares aos de Hong Kong.



Macau foi uma agradável surpresa, mesmo quando as expectativas eram elevadas. Quase 20 anos depois de ser "devolvida" à China ainda retém a nossa história e orgulha-se dela. Mesmo sabendo de antemão do que lá existe deixado por nós, não deixa de ser uma sensação estranha - no bom sentido - ver tudo identificado na língua de Camões em plena Ásia. A revisitar, com toda a certeza.

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