14/09/15

Mochilas de Viagem

O nome do nosso blog tem origem na primeira viagem longa que fizemos de mochila às costas. Chegados a Sarajevo sem alojamento marcado, um senhor com alguma idade prontificou-se a mostrar-nos uma casa que tinha para alugar numa das colinas em redor da cidade. Ao sabermos que éramos portugueses quis exibir os seus dotes de castelhano, pois apesar de ter sido professor ginástica tinha participado no acolhimento de atletas aquando dos Jogos Olímpicos de Inverno em 84. Pelo meio do seu castelhano mais ou menos fluente, informa-nos que somos "mochiletas", termo que nunca mais haveríamos de ouvir ou ler. Achamos piada ao nome, ao casebre que o senhor tinha para nos mostrar após subirmos uma colina quase até ao cima de mochila às costas nem por isso.

Por isto e porque as nossas velhinhas mochilas já estão a descoser por todos os cantos, decidi sondar o mercado de mochilas para que as velhinhas Berg que nos custaram apenas 25 euros possam ser rendidas.

Essencialmente há 5 factores gerais a ter em conta quando adquirimos uma mochila: a capacidade necessária/pretendida, o conforto/peso da mochila em si, a durabilidade dos materiais, a organização que proporciona ou que pretendemos e claro, o orçamento de que dispomos.

Começando pela capacidade da mochila, algo que rapidamente aprendemos é que não queremos levar a  casa às costas. Quando fazemos uma viagem mais longa vamos ter que lavar a roupa em algum lado. É preferível levar menos roupa e lavar mais vezes do que tentar levar uma quantidade absurda de roupa que inevitavelmente irá acabar por ter que ser lavada a certa altura da viagem. Dois pares de calçado e uns chinelos de praia são suficientes e os artigos de higiene pessoal devem restringir-se ao essencial, até uma vez mais muitos deles vão-se esgotar e vamos ter que adquirir outros no caminho. Uma grande ajuda na organização da mochila são sacos de plástico com zip lock que nos permitem comprimir a roupa com pouco ar e facilitam o acesso à roupa pretendida sem desarrumar toda a mochila. Podem até empacotar em "packs" diários, embora com o decorrer da viagem e com as lavagens seja natural algum descuido a esse respeito. No que diz respeito à organização da mochila propriamente dita, há para todos os gostos: mochilas com poucos compartimentos e bolsos em que cabe ao viajante organizar tudo à sua maneira num grande compartimento e mochilas repletas de bolsos, compartimentos e sítios para prender material de campismo, caminhada, alpinismo, etc. Muitas trazem também uma bolsa - interna ou externa - onde pode ser colocado um reservatório de água para caminhadas longas. Há ainda mochilas que se "desmontam" em mochilas mais pequenas para usar durante o dia, pequenas bolsas ou bolsas que se "esticam" para a frente do corpo. 

Assim, uma mochila com capacidade entre os 60 e 70L parece-me o ideal. Quem quiser viajar light pode sempre optar por uma de 50L, menos que isso é complicado.

No que diz respeito ao conforto, o ideal é mesmo experimentar a mochila com uma carga similar à que vamos ter. Infelizmente em Portugal não é fácil encontrar muitas mochilas que não as de marca branca das grandes superfícies (Berg, Quechua, etc) pelo que tal pode não ser possível. A uma tendência crescente para as mochilas terem um frame (estrutura rígida da mochila) interno. Embora os externos mantenham a carga mais afastada das costas - permitindo uma melhor ventilação das costas - e uma melhor distribuição da carga, também fazem com que haja uma maior instabilidade ao caminhar, especialmente em terrenos inclinados ou acidentados. Assumindo que a maior parte das pessoas optará pelo frame interno - até porque é o que maior parte das mochilas mais recentes usam - convém escolher uma mochila que seja ajustável ao tamanho do tronco de quem a vai usar. Hoje muitas marcas também já fazem modelos masculinos e femininos, atendendo às especificidades das formas corporais de ambos os géneros. Geralmente existem também vários tamanhos (S, M e L) adequados consoante o tamanho do tronco (e não altura). Um mochila bem almofadada é um bom princípio mas convém acima de tudo que seja bem ventilada e com tecidos de secagem rápida, que não absorvam (muito) a transpiração. O peso da mochila propriamente dita também pode variar significativamente, sendo geralmente as mochilas mais leves mais caras e inevitavelmente menos resistentes. Dependendo do tipo de viagem que se deseja realizar, terá que se chegar a um "compromisso" entre estes 3 factores: peso, durabilidade e preço.

Por falar em preço, chegamos ao orçamento. Como já referi, as nossas primeiras mochilas de 65L - em promoção na Sport Zone - custaram-nos 25 euros há 5 anos. Hoje em dia mochilas equivalentes rondam o dobro ou mais, apresentando essencialmente o mesmo design: 1 pequeno bolso na parte superior, 2 bolsos laterais, um compartimento inferior para o saco cama (que eu uso para o calçado) e um grande compartimento principal. Na Decathlon as mochilas da Quechua aparentam uma melhor qualidade e outro grau de conforto e organização mas aí os preços para um mochila desta capacidade começam pelos 70 a 80 euros e vão até cento e muitos. De notar que esta marca também já apresenta mochilas diferenciadas consoante o género e tamanhos ajustáveis, ao passo que as da Berg continuam a ser o mais "genéricas" possível. Se avançarmos para mochilas "de marca" aí temos um sem fim delas, para todos os orçamentos e tamanhos. 

Excluindo mochilas com capacidades de superiores a 80L e mochilas de materiais mais pesados e robustos que se adequam ao comum dos viajantes, temos mochilas com preços compreendidos entre os 140/150 e os 300 ou mais euros. Pretendo aproximar-me mais do limite inferior do que do superior, restringi a minha pesquisa a um punhado marcas:

- Deuter
- Gregory
- Osprey
- The North Face
- Vaude

Após ler inúmeros reviews sobre vários modelos destas 5 marcas, acabei por eliminar as Deuter e as The North Face uma vez que - talvez por serem mais conhecidas e amplamente comercializadas por todo o mundo - aparentam ter uma pior relação custo/benefício. Foram também as únicas destas 5 marcas que chegamos a conseguir experimentar e não ficamos muito impressionados. Assim, os 4 modelos "finalistas" foram os seguintes:

 - Gregory Baltoro (versão no feminino: Deva);
 - Osprey Atmos (versão no feminino: Aura);
 - Osprey Aether (versão no feminino: Ariel);
 - Vaude Astrum (versão no feminino homónima).

Passemos então a uma breve analise das 4:


Gregory Baltoro



Disponível em versões de 65L e 75L, é a mais cara das quatro e também é descrita como sendo uma das que apresenta maior durabilidade (embora alguns reviews refiram uma diminuição da mesma com a descida para preços mais "competitivos" da versão mais recente). É uma das que se comporta melhor com cargas pesadas. Apresenta múltiplos bolsos, incluindo parte frontal, cobertura superior e na cintura. Para além do acesso superior, um acesso frontal ao compartimento principal. A parte superior é pode ser usada separadamente com bolsa. As almofadas nas costas podem ser moldadas individualmente - virtualmente impossível por esta marca norte-americana não ser vendida em Portugal - e a cintura é ajustável.


Embora o preço - da mochila de 65L (também existe de 75L) - anunciado no site oficial seja o de 209 USD, como não vendem para Portugal temos que nos "virar" para outros mercados. No eBay é possível encontrar a mochila a preços muito díspares, entre os 175€ e 380€ (provavelmente as mais baratas são modelos mais antigos), sem portes ou taxas de importação incluídos (agora a maior parte dos vendedores dos EUA aderiram ao Global Shipping Program em que eventuais taxas alfandegárias são pagas a pronto), pelo que o preço final dificilmente ficará abaixo dos 260/270€. Este foi o principal motivo para, com grande pena minha, excluir esta mochila. Há um site espanhol que a vende a 234€ e cujos portes até são baratos, o problema é que tem uma reputação no mínimo "duvidosa" pelo que decidi não cair na tentação dos preços mais baixos que apresenta (para este modelo e outros que se seguem).


Osprey Atmos AG



Outra marca norte-americana (as mochilas são fabricadas no Vietname, tal como as The North Face), também ela difícil de "trazer" para Portugal.
À primeira vista o modelo Atmos parece ser o que procuramos: boa capacidade, leve, com o mais inovador sistema de suspensão/ventilação da marca, indicada para viagens com peso leve a moderado. Apresentada ainda com sendo a primeira mochila com a a cintura ventilada, é possível ajustar a mesma bem como o comprimento do tronco. Tal como a anterior, tem a parte de cima destacável que pode ser usada como bolsa diária ou simplesmente deixada em casa uma vez que tem uma segunda capa para fechar o acesso superior ao compartimento principal. Dispõe de bolsos laterais, na parte superior, na cintura, um compartimento inferior e ainda de 2 grandes bolsos frontais, com um bolso de rede elástica por fora. A cintura é moldavel num aparelho específico - tal como a anterior, virtualmente impossível em Portugal - mas também acaba por se moldar com uso e respectivo o calor corporal. Traz ainda capa de chuva incorporada mas inexplicavelmente, não tem acesso frontal ao compartimento principal. 


Disponível em versões de 50L e 60L, a última tem o preço oficial de 180 Libras Esterlinas, cerca de 245€ à taxa actual de câmbio. A marca também não vende directamente para Portugal (embora o faça para Espanha) e ao ser contactada forneceu-me o contacto do distribuidor espanhol, que até hoje nunca me respondeu. No eBay, embora seja possível por vezes encontrar modelos mais antigos mais baratos (160€ a 180€), o modelo mais recente (Atmos AG) começa a preços a rondar os 220€, sem portes ou taxas de importação (a maior parte dos vendedores são mais uma vez dos EUA). No entanto, na Amazon podem encontrar alguns vendedores do Reino Unido que enviam para Portugal, com portes mais baratos e evitando taxas alfandegárias, a preços a rondar os 200/240€, dependendo do tamanho escolhido. Há ainda alguns sites europeus (nomeadamente alemães) que vendem a mochila a preços similares. Pelo preço e pela ausência de acesso frontal acabei também por eliminar esta opção.


Osprey Aether




Disponível em versões de 60L, 70L e 85L, a Aether é a versão "todo-terreno" da Osprey. Ligeiramente mais pesada do que a anterior, é descrita como sendo mais resistente e mais adequada para cargas moderadas a pesadas. Também tem a parte de cima destacável que pode ser usada como bolsa diária. Dispõe de bolsos laterais, na parte superior, na cintura, um compartimento inferior e um bolso de rede elástica por fora. Para além do acesso superior, tem um acesso frontal em "J", ou seja, um fecho que abre 50% da parte frontal. A cintura também moldável mas o sistema de suspensão/ventilação fica ligeiramente atrás da anterior, o tamanho do tronco e a cintura são ajustáveis. Também inclui capa de chuva incorporada. Para cargas até 8/9 kg, a anterior tem reviews mais favoráveis no que concerne ao conforto. No entanto, para cargas superiores geralmente os papeis invertem-se.



A versão de 70L ronda os 190/200€ no eBay, sem portes (não falo em taxas de importação pois é fácil encontrar vendedores europeus deste modelo). Através de um desses vendedores, decidi pesquisar o próprio site da loja - alemã - que vende a mochila por 180€ acrescidos de portes, pelo que o preço fica próximo dos 200€ finais. Numa perspectiva de futuro e por apresentar as características que desejava a um preço ligeiramente mais alto do que esperava desembolsar, acabei por optar por esta mochila que irá ser realmente "testada" dentro de mês e meio numa viagem de quase 4 semanas.

Vaude Astrum



Marca francesa já com alguns anos de mercado, apresenta a Astrum como uma mochila durável, prática e acessível. Os reviews são favoráveis, no que concerne a conforto e ventilação, embora fique uns pontos atrás das anteriores no que diz respeito à última. Apresenta menos bolsos que as anteriores, sendo este o principal "defeito" apontado à mesma. De resto, é geralmente revista como uma mochila resistente, confortável e prática, com capacidades de 60L e 70L, ambas extensíveis em 10L. Tem 2 bolsos laterais simples, um bolso superior, um pequeno bolso na cintura e um compartimento inferior. O compartimento principal é acessível pelo topo e por um acesso frontal. Também tem capa de chuva integrada.

Em termos de preços, é a opção mais em conta das 4 mochilas apresentadas. É possível encontrar a de 60+10L a menos de 140€ (sem portes) no eBay e curiosamente os vendedores dos EUA vendem-na ao dobro do preço (!). 

Termino o post relembrando que a escolha de uma mochila obedece a uma série de factores, muitos deles de ordem pessoal, pelo que a mochila ideal para um pode ser terrível para outro. Corri - consciente disso - um risco ao encomendar uma mochila que me pareceu adequada às minhas necessidades sem ter a possibilidade de a experimentar, baseando-me em reviews de terceiros. Talvez por sorte ou por se tratar de uma mochila bastante versátil, aparentemente correu bem (ainda só a experimentei dentro de casa, por um curto período de tempo). Há uma série de outras marcas com preços mais acessíveis e mais elevados (para além das já referidas Deuter e The North Face: Arc'Teryx, Fjallraven, Alpine Lowe, Vango, etc), incluindo a portuguesa Monte Campo. É uma questão de pesquisar e ver alguns reviews (escritos e vídeos no YouTube) e se possível, experimentar antes.

2 comentários:

  1. Tem piada! Estive há duas semanas a ver a mesma coisa! A minha mochila já foi cosida e recosida e ja precisava uma reforma... Tinha (e ainda tenho porque nao a deito fora!) uma montejunto marvão de 40L. Quanto ao tamanho chegava e sobrava porque nunca levo muita roupa e vou lavando as coisas pelo caminho (o saco cama é daqueles minis). Depois de muito ver reviews acabei por optar pela Kelty Redding 50 (https://www.kelty.com/product/redwing-50) na cor verde escura. Estava indeciso entre esta e a versão de 44L, mas acabei por optar pela de 50L (não sei se depois me arrependo). Abraço e parabéns pelo Blog!

    Nuno Aldeia

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  2. Obrigado Aldeia!
    Eu quando andava inclinado para a Atmos também me senti tentado em comprar a de 50L, até porque era mais barata e mais fácil de encontrar. Depois com a Aether funcionou um bocado ao contrário, a de 70L custava pouco mais do que a de 60L e o peso é o mesmo (assim como na Atmos). Acabei por escolher a de 70L mais numa perspectiva de futuro pois por agora não tenciono levar a mochila cheia senão lá se vão os meus discos inter-vertebrais! Abraço

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