21/10/16

Yekaterinburg


Estávamos a aproximar-nos de um dos marcos da nossa viagem quando começou a nevar intensamente, a fronteira que separa dois continentes de que tanto gostamos: a Europa e a Ásia. Referimo-nos à histórica cidade de Yekaterinburg, outrora conhecida por Sverdlovsk. 


O nome da “capital dos Urais” deve-se à Imperatriz Catarina, esposa e sucessora de Pedro o Grande, bem como avó do marido de Catarina a Grande. Após a morte de Pedro, que não deixou sucessor, esta assumiu o poder tornando-se a primeira czarina russa a assumir o poder do Império. A cidade é ainda conhecida por ter sido o local de execução da última dinastia da família imperial, os Romanov, às mãos dos Bolcheviques. Uma das histórias mais tristes da cidade, em que o casal e os seus 5 filhos - 4 raparigas e um rapaz - foram baleados na cave de uma casa entretanto mandada demolir por Boris Yeltsin nos anos 70 por recear que se tornasse um local propício a rebelião por parte de monárquicos. Este último, oriundo da cidade, foi seu governador e o primeiro presidente russo no período pós-soviético. Nunca reuniu consensos mesmo na própria cidade, onde foi retratado por um conhecido escultor como uma calhau de pedra que à medida que ia avançando apenas deixava detritos da mesma atrás de si. Coincidentemente, no período em que este presidiu o país, a cidade descendeu ao caos da máfia russa. Para quem gostar de atracções kitsch, existe ainda hoje o conhecido “cemitério da máfia”, com campas para todos os gostos: passando por lápides que retratam defuntos nos seus motociclos a gangsters segurando armas.



As atracções da cidade são mais líricas do que físicas, pelos eventos descritos. No entanto, vale  pena dedicar um dia inteiro à descoberta da cidade. A maioria concentra-se em duas zonas da cidade, em lados opostos do rio Iset e tendo a central Praça Goda 1905 como referência para ambas. 


Assim, na região a norte da praça e partindo da avenida Lenina, poderá encontra a Igreja do Sangue, construída no local onde a família Romanov foi executada e que conta com um pequeno museu, uma vez mais em russo, sobre esses eventos. Irão passar por várias casinhas típicas de madeira, algumas delas museu. 



Nas suas proximidades, a azulada Igreja da Ascensão serve como referência para prosseguir a visita ao imponente edifício da Universidade, passando pelo monumento da “Tulipa Negra”, um monumento aos soldados que combateram 2ª Grande Guerra entretanto falecidos. Uns metros adiante encontram o museu da História Militar.






Na zona a sul da praça central está a Residência do Presidente Yeltsin, onde é possível visitar um pequeno museu dedicado ao mesmo. Mais a sul, existe um pequeno parque com a Capela de Alexander Nevsky ao qual se sucedem dois edifícios soviéticos imponentes, cinzentos e sem graça: o circo e a decrépita torre da cidade. 




Visível de praticamente toda a cidade, é a a torre do Centro de Negócios “Vysotsky”, o edifício mais alto de Moscovo a Vladivostok onde é possível subir a uma plataforma de observação panorâmica pela “módica” quantia de 250 rublos. Nós decidimos passar. 


Por fim, ainda no centro da cidade há uma série de outras “atracções” ao verdadeiro “estilo russo” sem grande sentido, como um estranho teclado QWERTY de pedra e um contorno metálico dos Beatles. Estranhamente, a avaliar pelos comentários de muitos turistas estrangeiros, ainda há gente que gosta (?!).

Nos arredores da cidade, há no entanto múltiplos atractivos. Os mais próximos e fáceis de alcançar, são os marcos que assinalam a fronteira entre os dois continentes. Um deles, o mais antigo, data do século 19 e fica a 40km da cidade. Nós optamos por visitar o mais recente, construído em 2004, que fica a apenas 17 km. Fizemos a viagem com a Uber e pagamos apenas 700 rublos, ida e volta, quando o nosso hostel nos pedia 1300. Por falar nesse, vale a pena mencionar o nome - Hostel Centre - para que NÃO lá fiquem, pois as áreas comuns estão literalmente em ruínas. Se forem ao booking.com podem ver o nosso comentário e respectivas fotos, bastante esclarecedoras a meu ver.




Outro local a ponderar é a Ganina Yama, um complexo de pequenas capelas ortodoxas a 15km da cidade, erigidas no local onde foram enterrado os Romanov após a sua execução. Uma das 7 capelas incendiou-se há alguns anos mas irá ser reconstruída. De referir que os bolcheviques, na iminência da descoberta dos mesmos pelo Exército Branco - seus opositores na guerra civil que se sucedeu ao início da revolução - acabariam por mudar os restos mortais para um outro local, sendo apenas descobertos numa investigação clandestina em 1970.

Por fim, e para terminar com algum mistério, há ainda o Dyatlov Pass. Este localiza-se nos montes Urais e o seu nome deve-se a um grupo de experientes montanhistas, maioritariamente estudantes, liderados por Dyatlov que morreram em circunstâncias misteriosas quando acompanhavam a caminho de uma montanha, isto em 1959. A investigação em pleno regime soviético, deparou-se com corpos desnudados congelados na neve, com níveis anormais de radiação, pele e cabelos envelhecidos e com sinais de extrema violência sugestivos de lesões infligidas a partir do interior do corpo. Para adensar o mistério, as tendas estavam rasgadas como se estes tivessem cortado as próprias tendas numa tentativa de fuga imediata. Não foi encontrada qualquer explicação para o sucedido, dando aso a todo tipo de teorias: um encontra com extra-terrestres, o homicídio por parte de povos nómadas para quem o local era sagrado, um ataque por parte de animais selvagens ou até mesmo algum teste secreto por parte do regime.

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