22/04/15

Guias Lonely Planet




Apesar de termos utilizado por várias vezes o fórum "Thorn Tree" do Lonely Planet antes, só em 2010 usamos os reputados guias pela primeira vez. Confesso que fizemos o download do torrent dos mesmos, escolhemos as partes que nos interessavam para a nossa viagem pelos Balcãs ocidentais e tratamos de as imprimir. Fomos com os alojamentos reservados até meio das férias e o fomos marcando o resto ao longo da viagem, ora no destino anterior ora quando chegávamos ao destino. Acabamos por ficar com a sensação que a coisa era algo incompleta: alguns dos destinos - bastante conhecidos - tinham apenas 2 ou 3 páginas; as opções de alojamento eram algo limitadas tendo em conta a realidade; os mapas eram escassos e geralmente muito limitados. Acabamos por utilizar uma aplicação para smartphone (Triposo) em quase todo o lado. Em 2012, num regresso ao leste europeu, desta feita mais a oriente, repetiu-se o cenário pese o facto de os guias do Triposo desses países serem também eles bastante incompletos.

Talvez por teimosia - e após alguma pesquisa - em 2013 compramos os guias individuais do Vietname, Laos e Camboja. Os dois primeiros tinham óptimos reviews e estávamos esperançados que sendo guias individuais fossem mais completos e exactos. Os reviews do guia da Tailândia eram piores, pelo que optamos por comprar pela primeira vez um guia da Rough Guides.


Lá fomos de férias, as que acabamos há dias de relatar, e o resultado foi pela primeira vez satisfatório: os guias do Vietname e do Laos eram de facto completos, não só no aspecto histórico mas também na abrangência de praticamente todo o país. Eram também mais exactos, quer em termos de preços, transportes e horários de atracções. O guia do Camboja era razoável mas já com várias imprecisões detectadas - e só fomos a 2 dos principais destinos, Phnom Penh e Siem Reap (Templos de Angkor).

O ano passado, voltamos a comprar os ditos, desta feita o da Malásia, Singapura e Brunei (sendo que só fomos aos 2 primeiros) e o de Bali e Lombok. E aqui é que a coisa descarrilou. O primeiro era altamente impreciso e incompleto: continha erros grosseiros (a todos os níveis), era notória a "preguiça" do autor na elaboração do mesmo e a "cobertura" de alguns locais (ilhas Perhentian, por exemplo) era no mínimo uma "brincadeira" de mau gosto. Se é um dado adquirido que os preços podem sofrer uma ligeira inflação em poucos meses, não é de todo aceitável que indiquem preços que rondam o dobro da realidade. Não é também aceitável que, por exemplo em Penang, praticamente todos os autocarros locais estivessem errados (preços, horários e destinos) quando na realidade nada se havia alterado nos últimos anos. Pouco aceitável ainda era o mapa do metro, mono-rail e comboio de Kuala Lumpur: uma digitalização de dimensão reduzida do mapa fornecido no próprio metro, cuja legenda vem num tamanho tão reduzido que torna a leitura complicada, senão impossível, para quem não tiver olhos de falcão. Em Malaca, os erros crassos relativos à nossa história apresentados em algumas placas que se encontram na cidade foram literalmente copiados para o livro. Não fomos ao Brunei mas se tivéssemos ido teria sido outra banhada: o livro tem umas míseras 19 páginas dedicadas ao pequeno sultanato, com muito pouca informação e já incluindo mapas, contactos, etc.

O livro de Bali e Lombok, safou-se um bocadinho melhor por não ter muitos erros. No entanto, a cobertura de ilhas como Lembongan, Penida ou as famosas Gili ao largo de Lombok, era mais uma anedota. Mais uma vez, os preços indicados para algumas actividades - como o mergulho, por exemplo - eram superiores aos reais (e nós fomos em época alta).

Exposta a nossa experiência pessoal, que certamente nos afastará por algum tempo destes guias, ficam mais algumas reflexões acerca dos mesmos:

- Há várias formas de viajar e todas elas são válidas sendo que o mais importante é que o viajante desfrute das suas férias e viagens. Para nós, um dos aspectos mais importantes de viajar - senão o mais importante - é a descoberta, a aventura de sermos nós próprios a organizar as nossas férias, escolher e explorar os destinos por nossa conta. É certo que vamos ter experiências boas e más, mas as boas serão melhores por serem mais genuínas e as más servem de aprendizagem e geralmente depois de ultrapassadas costumam ser motivo de uma boa gargalhada. Os guias - os do Lonely Planet com a maior fatia de responsabilidade por serem os mais difundidos - acabam por "uniformizar"os viajantes, amputando grande parte dessa experiência. Não raras vezes encontramos as mesmas pessoas a seguir exactamente o mesmo percurso que nós, porque "o livro recomenda", quase como quem diz "o livro manda". Isto torna-se ainda mais notório no que diz respeito à restauração - e aqui o Lonely Planet e o Trip Advisor partilham as culpas. Quantas vezes não fomos à procura de um suposto restaurante "familiar" marcado como "top choice" para o descobrirmos com uma enorme fila de pessoas, qual "Efeito Rebanho", com o dito guia na mão à porta à espera de lugar? E muitas das vezes com restaurantes praticamente iguais (ou até melhores) mesmo ao lado às moscas?

- O final do último ponto, leva-me ao seguinte: será que a "top choice" de um autor é uma "top choice" para nós? É certo que foi assim que descobrimos algumas "pérolas" mas também foi dessa forma que tivemos algumas das refeições mais decepcionantes até hoje, uma delas com direito a gastroenterite. Mesmo que um guia tenha vários autores, geralmente cada um cobre uma parte do país, sendo grande parte da informação e das escolhas influenciadas em maior ou menor medida pela opinião desse mesmo autor. 

- O Efeito "Bíblia": um guia de viagem, seja ele qual for, é mesmo isso: um mero guia. Tenta transmitir da forma mais objectiva e exacta possível a realidade de um determinado destino, que é um sítio real e como tal, em constante mudança. Já referi que os preços mudam e que quando se trata de um pequeno aumento é perfeitamente compreensível. No entanto, já assisti por algumas vezes a caricatas cenas de turistas a "desatinarem" com os locais ora porque o preço de uma entrada numa atracção já não corresponde ao anunciado na sua inquestionável "bíblia", ora porque no guia é referido o preço de 1€ por Kg de roupa numa lavandaria quando o funcionário, real e que se calhar nem sabe da existência da dita "bíblia", pede 1,5€ por Kg. Não vale a pena e só nos fica mal, principalmente a nós ocidentais que nos radicamos numa arrogante superioridade moral e civilizacional.

- Guias centrados em "backpackers". Mas afinal o que é um "backpacker"? Nós levamos mochilas às costas, fazemos um esforço por gerir da melhor forma os nossos recursos para podermos realizar umas férias de 1 mês com algum conforto. Seremos "backpackers"? Se formos a avaliar pelos ditos guias, não me parece. Isto é, a maior parte dos alojamentos escolhidos são alojamentos baratos, básicos, por vezes com condições dúbias. Há sempre umas 2 ou 3 escolhas para orçamentos mais elevados mas a grande falha, para nós, é mesmo a parca escolha de alojamentos de gama "média", que muitas das vezes até têm preços similares aos mais básicos. Nós geralmente fazemos uma pesquisa exaustiva antes da viagem e optamos por reservar o máximo possível (senão tudo) antes. É certo que nos retira alguma flexibilidade no roteiro mas geralmente conseguimos assim alojamentos melhores por um preço mais acessível, que de outra forma se encontrarão já esgotados ou com preços mais elevados. A maior parte deles, não se encontram nos ditos guias. O mesmo se aplica aos restaurantes, embora aqui a escolha seja habitualmente um pouco mais equilibrada.

 Em suma, os guias - do Lonely Planet  ou outros - não são para ser levados à letra. Se o fizermos iremos limitar-nos a repetir uma pequena parte de uma viagem de alguém, sem factor surpresa, sem grande descoberta ou aventura. Devemos também ter em conta que estes são feitos e editados num determinado momento, tornando-se desactualizados em pouco tempo. Aqui a pesquisa em fóruns e sites dedicados a viajantes independentes (Trip Advisor, Travel Fish, WikiTravel, etc) torna-se indispensável pois são continuamente actualizados por múltiplos viajantes, sejam eles "backpackers", casais, famílias ou ecoturistas. O YouTube e o Vimeo estão repletos de relatos de viagem que podem ajudar bastante a decidir o roteiro e na escolha das atracções que mais nos possam interessar.Utilizem também os variadíssimos sites de reservas de alojamentos para terem este tipo de feedback em relação aos mesmos.
 Não tenham receio de experimentar restaurantes que não são referidos no livro, se tiverem muitos "nativos" provavelmente até serão melhores do que aquela "top choice" que está à pinha de turistas e que se calhar até já se desleixou um pouco por ter uma fonte inesgotável de clientes.
 Posto isto, este ano vamos 3 semanas para Myanmar (antiga Birmânia) e compramos 2 guias para nos entretermos na viagem e para algumas dúvidas de última hora (pois a pesquisa já está feita, refeita e revista): Rough Guides e Guia Azul (em castelhano).

 Boas viagens!

4 comentários:

  1. Por isso acompanho o blog de vocês e alguns outros. O melhor guia é a experiência do viajante. O dia-a-dia, as coisas boas, os contratempos... Isso é que vale! Parabéns para vocês!!

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  2. Sem dúvida Flavio, o somatório de experiências de vários viajantes são o melhor guia que pode existir. Obrigado pelo seu comentário:)

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  3. Olha... Sempre utilizei os Lonely Planet para saber o "must-see" da região. Com um "bom" viajante, utilizei outras ferramentas e não segui à risca os guias. Mesmo sabendo de alguns erros, EU amo a Lonely Planet pois já me disse como me virar de um lugar para outro por conta própria e evitar algumas furadas.

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    1. Olá Thiago! Nós também utilizamos os guias do Lonely Planet e outros há alguns anos. Como digo no parágrafo final "os guias - do Lonely Planet ou outros - não são para ser levados à letra", sendo no entanto úteis (a ideia é essa). Como você diz, usar outras ferramentas e não os seguir à risca é a "regra" a seguir. Também já nos socorremos do mesmo para organizar transportes, descobrir restaurantes e atracções que de outra forma se calhar teríamos passado. Da mesma forma, também já podíamos ter perdido muitos transportes e atracções se nos tivéssemos fiado neles a 100%. Cada guia é um guia (já usamos alguns muito bons, outros maus) e o bom senso é fundamental.

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