03/05/15

Tirana



Em 2010, aquando da nossa primeira viagem pelos Balcãs em que calcorreamos alguns dos pontos de interesse entre Istambul e Milão, tivemos uma curtíssima passagem por aquele que é o único país maioritariamente muçulmano da Europa. Descendentes dos Ilírios, dotados de uma língua ímpar no mundo e isolados do mundo exterior durante mais de 50 anos, sob a ditadura com mão de ferro de Enver Hoxha, os albaneses são um povo bastante simpático e marcadamente nacionalista.


A fronteira "errada", bem que avisava a placa do lado Macedónio...


"Posto" fronteiriço albanês na fronteira com Macedónia no magnífico lago Ohrid
Num acesso nostálgico, nas últimas semanas temos vindo a ponderar um regresso para conhecer melhor este país. Até que tal se torne realidade, fica um curto relato da nossa passagem pela cidade de Tirana em obras, vindos do lago Ohrid que partilha com a Macedónia e com o Montenegro como destino. O disco onde tínhamos as nossas fotos foi-se à vida mas felizmente algumas fotos que tínhamos online sobreviveram. Serão elas que irão ilustrar este post.

As únicas mochilas no "mini-bus"
Chegamos de mini-bus (uma carrinha velha que dava ratéres com bastante frequência) ao centro da cidade. Um dos vários obstáculos com que um viajante se depara na Albânia é precisamente o transporte. Uma parca rede de comboios lentos, pouco frequentes e com horários ainda menos confiáveis torna esta opção virtualmente impraticável. Não há, ou pelo menos não havia, qualquer empresa de autocarros que ligasse os principais destinos do país. Sobram os ditos "mini-bus", que não passam de carrinhas de 9 lugares (mas que podem levar mais passageiros) que param em determinados locais em função do destino e que só partem quando estão praticamente cheios. Estes param ainda um sem fim de vezes pelo caminho, ora descarregando passageiros ou mercadorias, ora recolhendo novos passageiros que utilizam este meio de transporte como se fosse uma "carreira". O preço, para turistas e para locais, é negociado na hora e chegamos a assistir a passageiros que depois de chegarem ao destino pagavam menos do que haviam combinado, chegando numa das vezes o motorista furioso a atirar as moedas pela janela fora!

O país não tem auto-estradas e as estradas - de uma faixa para cada sentido - são das piores que encontrámos pela Europa, tornando-se tudo isto mais grave se tivermos em conta que os albaneses são relativamente loucos a conduzir utilizando uma faixa virtual no meio da estrada para ultrapassagens, independentemente se vem alguém no sentido contrário ou não.



O epicentro da cidade é a enorme praça Skanderberg (ou Skenderberg), nome do "pai" da nação albanesa que se encontra imortalizado numa estátua na dita praça. No entanto, o aspecto da mesma não engana e esta foi mesmo construída no período comunista de Enver Hoxha. 

Skanderberg no seu cavalo
Para tal demoliu-se o antigo bazar de Tirana e no lugar da actual estátua de Skanderberg encontrava-se uma de Estaline. Havia ainda uma estátua do próprio Hoxha que foi removida aquando da queda do regime em 1991.

Museu Nacional de História, com publicidade da Vodafone a ocultar a bela pintura da sua fachada...
Os dois edifícios mais imponentes da praça são o Palácio da Cultura (Ópera de Tirana) e o Museu Nacional de História.

Palácio da Cultura
Ainda na praça, destaque para a mesquita Xhamia e Et'hem Beut (ou simplesmente Et'hem Bey) que esteve fechada durante toda a era comunista, uma vez que a Albânia nessa altura havia sido declarada o primeiro estado ateísta do mundo. Foi também a sua invasão por milhares de populares em 1991 que deu início à queda do regime. Mesmo ao lado da mesquita, a Torre do Relógio, mandada erigir por Haxhi Et'hem Bey (que terminou a mesquita cuja construção se iniciou no reinado do seu pai, Molla Bey). É possível subir uma escada em espiral que leva ao topo da mesma, de onde se tem a melhor vista sobre a praça Skanderberg.

Mesquita e Torre do Relógio
Vista da Torre
Catedral Ortodoxa em construção
Próximo da praça, no quarteirão a sudoeste da mesma, encontra-se a Catedral Ortodoxa da Ressurreição de Cristo que à data se encontrava ainda em construção (no local da antiga Igreja Ortodoxa do Santo Evangelista) e cuja construção foi concluída em 2012, sendo o 3º maior templo ortodoxo da Europa.


Apesar de após a queda do comunismo grande parte dos espaços verdes bem como das margens do rio Tiranë terem sido ocupados por habitações de construção clandestina, nos últimos anos tem havido um esforço para restituir estes espaços. Assim, um passeio pelas margens do rio foi um dos pontos altos da nossa passagem pela cidade, com uma paragem por aquele que será o monumento mais kitsch da cidade: a pirâmide que inicialmente foi projectada como mausoléu de Enver Hoxha, posteriormente transformada em museu com o nome de um activista perseguido pelo antigo regime e que após um curto período em que funcionou como galeria comercial, ficou votada ao abandono. Se em 2010 já se encontrava num estado avançado de degradação, as fotos mais recentes da mesma dão pena.


Deixo mais duas considerações acerca da cidade, ou melhor dizendo, acerca do seu povo e da sua gastronomia. O povo é simpático, prestável e hospitaleiro (como na generalidade dos Balcãs) mas praticamente ninguém fala inglês. No entanto, uma boa parte da população "arranha" italiano, uma vez que o país já esteve ocupado pela Itália fascista e devido à proximidade geográfica. E isto leva-me à segunda consideração: há uma abundância de (boa) comida italiana mas o destaque vai mesmo para a comida local. Um dos pratos mais estranhos e ao mesmo tempo imperdíveis que provei até hoje foi o Fërgesë. É o prato mais típico de Tirana e existem várias variantes, todas elas com queijo feta e iogurte, levados ao forno. Eu provei aquela que talvez aparente ser a mais estranha e adorei: Fërgesë de fígado.

"Pasta" Albanesa
Fërguesë de Fígado
A nossa visita não terminou sem uma volta pelo bairro mais "noctívago" da cidade que, espantosamente, se encontrava repleto de gente em bares modernos num domingo à noite. Ficamos por lá até às 2h da manhã e acabamos a noite a beber duas "birras" Tirana numa pequena esplanada/jardim próxima do nosso hostel, o simpático Freddy's hostel. No dia seguinte, tínhamos um mini-bus para Shkoder à nossa espera e aí iniciaríamos uma saga para chegar a Budva, no Montenegro.

Termino com muita vontade de regressar para conhecer melhor o país - Berat, Girokaster, Kuja, "Riviera" Albanesa, Llogara, Theth e Valbona são apenas alguns dos destinos que valem (muito) a pena conhecer - e com o desejo de vos poder contar mais sobre o mesmo em breve! Até já Albânia!

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